MULHERES MARCADAS
No Brasil, 75% das portadoras do HIV com mais de 60 anos foram contaminadas pelos maridos. O drama de algumas delas virou documentário
Os números sobre mulheres contaminadas impressionam. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência da área no País, tem um estudo que mostra que, entre as mulheres com aids que têm mais de 60 anos, 75% foram infectadas pelos maridos. E entre os homens com HIV, 80% contraíram o vírus em relações fora do casamento. “Enquanto o desejo sexual feminino diminui com o tempo, o do homem não, e ele acaba buscando sexo fora do casamento, mas não se protege, porque não estava acostumado com o preservativo, então ele contamina a esposa também”, explica o infectologista Jean Gorinchteyn, responsável pela pesquisa. Cida Lemos, de 54 anos, também acabou infectada pelo marido. “Confiei nele, por isso não usava preservativos. A gente tem a falsa ilusão de que o amor imuniza, e a aids é a última coisa que você imagina quando está casada”, pondera.
Quando adoeceu, os médicos davam muitos diagnósticos, menos aids. “Achavam que era estresse. As erupções na pele eles diziam que era fungo. Quando comecei a emagrecer muito e o cabelo cair, acharam que era lúpus. Eu continuava com uma febre constante, que trataram como febre reumática. Não era, tratava-se de uma tuberculose, doença oportunista. Demorou mais de 1 ano para ser diagnosticada a aids”, conta. Como se não bastasse, 1 ano depois da descoberta do vírus, Cida teve infecção nas retinas e ficou cega dos dois olhos. “A cegueira foi ainda mais difícil de aceitar. Fiquei magoada comigo, pois sou professora de ciências e sabia dos riscos. A partir do momento que abri mão do uso do preservativo, sou corresponsável”, explica.
É a mesma sensação que descreve a ex-enfermeira Maria Medianeira, de 57 anos. “Tive responsabilidade, não deveria ter confiado”, lamenta. O ano de 1996 foi o mais difícil da vida dela. Aos 44, quando voltava para casa de uma viagem, pegou o marido na cama com outro homem. Ela estava grávida e, em meio às brigas e à descoberta de que tinha sido contaminada, perdeu o bebê. “Jamais imaginei pegar uma doença dessas. Ele era meu marido, por isso não pensava em preservativo”, relata ela.
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