2012, será o fim do mundo?
Uma
inscrição Maia tem sido interpretada como um aviso de que o mundo vai acabar no
fim deste ano. No entanto, uma análise do complexo sistema de calendários
elaborados por essa civilização mostra que essa interpretação catastrófica é
equivocada. Este é o tema do artigo de capa da excente Revista: Ciência Hoje, nº 295. O texto
é de Alexandre Guida Navarro
Ruínas,
na atual Guatemala, da cidade maia de Tikal, um dos maiores centros urbanos da
América Central na época clássica dessa civilização. (foto: Wikimedia Commons).
Há cerca
de 4 mil anos, uma complexa civilização – os maias – surgiu na região da
América Central onde estão situados hoje o sul do México, Guatemala, Honduras,
El Salvador e Belize. A cultura maia teve seu maior desenvolvimento entre os
anos 300 e 900 do calendário cristão, e manteve suas identidades linguísticas e
culturais até a invasão da América Central pelos espanhóis, iniciada em 1519. Ao
contrário do que se acredita, porém, os espanhóis não aniquilaram os maias: na
Guatemala e no México, principalmente, milhões de descendentes ainda falam
línguas maias e mantêm vivos aspectos dessa antiga cultura.
A Pirâmide em El Mirador, no norte da Guatemala. Pesquisas recentes revelaram que a pirâmide mais alta da Mesoamérica, com 70 m de altura, ficava nessa região, que teria sido palco do primeiro grande colapso da civilização maia, no início da era cristã.
O fim do mundo
Os maias
ganharam destaque nos meios de comunicação, nos últimos meses, e o responsável
por isso é seu calendário. O motivo do destaque é a afirmação de que os maias
previram o fim do mundo para 2012. Mas isso é verdade? A
polêmica partiu de uma inscrição do chamado Monumento 6, pedra trabalhada
encontrada nas ruínas da cidade maia de Tortuguero, no sul do México. Essa
inscrição apresenta uma data relevante do calendário maia, interpretada como um
anúncio do final dos tempos.Na verdade, a data desse monumento indica somente o fim de um grande
ciclo do calendário maia, e não a destruição do mundo. Cabe esclarecer que o calendário maia – um sistema complexo de
calendários combinados – incluía diferentes ciclos. Na cultura desse povo não
existiam lendas ou mitos sobre o fim do mundo. A interpretação recente é de
responsabilidade não dos cientistas que estudam os maias, mas de escritores não
especializados em cultura maia ou outras pessoas que – por erro ou
deliberadamente – confundiram o fim do ciclo mais longo do calendário maia com
o fim do mundo.A idéia do fim do mundo está
associada às tradições religiosas judaico-cristãs, que incluem episódios sobre
essa questão: é o caso do ‘Livro do Apocalipse’, na Bíblia. O fato de
muitas pessoas, na chamada civilização ocidental, acreditarem nessa ideia não
significa que outras culturas, em outras regiões e em diferentes períodos da
história, tivessem as mesmas concepções de criação e destruição do planeta.