Cerca de 3 800 trabalhadores enfrentam os perigos e desafios da floresta Amazônica e da cordilheira dos Andes. O objetivo é abrir o trecho final do caminho que vai levar produtos brasileiros até os portos peruanos A iniciativa é considerada o plano mais ambicioso de investimentos em infra-estrutura que pretende desenvolver e integrar as áreas de transporte, energia e telecomunicações da América do Sul. A expectativa é de que o plano criará novas oportunidades econômicas, atrairá milhares de turistas e apresentará novos desafios aos ambientalistas na proteção de áreas naturais.
O objetivo do governo é que a estrada não seja apenas um corredor de mercadorias. Estão sendo estimulados negócios que vão gerar emprego e renda por intermédio de parcerias público-privadas. Assim, muitos setores serão beneficiados, especialmente na área de exportações. Os produtos brasileiros que hoje partem do porto de Santos, em São Paulo, levam pelo menos 27 dias para chegar à China. Percorrem 22.944 quilômetros se passarem pelo canal do Panamá e 23.650 quilômetros se contornarem a América do Sul, cruzando o Estreito de Magalhães para atingir o Pacífico. Esse percurso será feito em apenas 17 dias quando a Estrada Interoceânica estiver livre para o tráfego. Além de integrar Peru e Brasil, a Estrada Transoceânica garante rapidez e eficiência no transporte, com menor custo, condições fundamentais para dar competitividade às exportações sul-americanas.
Numa das regiões mais inóspitas da América do Sul, um exército de aproximadamente 3.800 operários enfrenta no momento altitudes superiores a 4.000 metros, avalanches de lama e temperaturas que variam, num mesmo dia, de 15 graus negativos a 20 positivos. Eles estão empenhados em terminar a construção da rodovia Transoceânica, que vai abrir um caminho para a circulação de mercadorias entre o Brasil e o oceano Pacífico. A conclusão dessa estrada representa uma das maiores epopéias de engenharia já realizadas no continente -- o que não é pouco em terras onde já foi erguida Itaipu, a gigante brasiguaia que reinou por quase duas décadas como a mais potente hidrelétrica do mundo, até ser desbancada nos últimos anos pela chinesa Três Gargantas. A idéia da Transoceânica começou a sair do papel no início da década de 90. O trajeto de 2 600 quilômetros ligando Rio Branco, a capital do Acre, aos portos peruanos de Ilo, Matarani e San Juan de Marcona (no mapa acima). A parte brasileira do traçado, um total de 344 quilômetros, já foi concluída. Resta agora executar o trecho final, muito mais longo, complexo e desafiador. "É um trabalho faraônico. Não existe nada desse porte sendo feito hoje na América Latina", afirma Luiz Weyll, diretor de contrato da Odebrecht, uma das construtoras brasileiras responsáveis pelo projeto, que tem prazo de término previsto para 2.011 e custo de cerca de 1,8 bilhão de dólares.
(1) - Caminhões trafegam pelo trecho brasileiro da Transoceânica já asfaltado. Restam cerca de 2.000 quilômetros por uma das regiões mais isoladas e inóspitas do continente sul-americano, e que segundo previsões estará concluido até 2.011; (2) - Ônibus circula sobre um grande trecho sem asfalto; (3) - A placa indica bifuração para quem deseja optar pela cidade de "Assis Brasil" ou seguir destino para cidades peruanas.