Histórias do trem que ligava o Brasil à BolíviaO nome assusta, mas não é bem o que parece. Não significa que aqueles que embarcaram no tal trem - que ligava o Brasil à cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia – morriam durante a viagem. Mas a história também não é tão clara assim...existem muitas vertentes criadas e alimentadas de boca em boca. Uma é sobre a epidemia de febre amarela que atingiu a Bolívia há muitos anos e o trem era usado para transportar doentes. A epidemia passou, mas a fama ficou.
No passado, o trem ligava Bauru - no estado de SP a Santa Cruz na Bolívia. Hoje, apenas o trajeto no mapa. Outra hipótese é a de que, durante as décadas de 70 e 80, a Bolívia passava por uma grave crise econômica e ocorriam muitas brigas e assaltos nos trens. Há quem diga que, como no Rio de Janeiro, muitos passageiros viajavam em cima dos vagões por falta de dinheiro e no trajeto corriam o risco de cair e morrer ou algum vagão de carga poderia descarrilar ao longo do percurso. Outros dizem que o perigo estava apenas nas classes mais econômicas, hoje proibidas aos turistas. Um novo apelido é somado à lista nos anos 90, o “Trem do Pó”, referência aos traficantes que transportavam a cocaína da Bolívia para a fronteira brasileira e para a Europa. Até a década de 80, Bauru estava no roteiro da viagem. O trecho foi sendo abandonado nos anos 90 e até hoje está desativado. No ano passado, a linha foi retomada apenas para cargas, apesar das más condições das linhas férreas e da baixa velocidade.
Philipe Karat, estudante de Engenharia Aeronáutica, fez a viagem no “Trem da Morte” em 2005. Ele conta que escolheu o trem pela sua história, além de ser a melhor maneira de se fazer o trajeto devido às condições precárias das estradas bolivianas. “Uma viagem semelhante à de trem, que dura dezessete horas, de carro levaria três dias”. Para Philipe o ponto negativo é a impossibilidade de parar no caminho para conhecer alguma coisa interessante.
O jornalista Ricardo Torres também se aventurou no Trem da Morte. “Acho que é o melhor transporte coletivo para quem não tem pressa e sabe que viajar é muito mais do que chegar ao destino pretendido, além de ser uma maneira de cumprir com a tradição mística desta viagem. Fui numa classe do trem que não tem tanto conforto como a primeira classe, mas é bem razoável. Dá para deitar um pouco e relaxar, enquanto se assiste a um filme pirata no teto do vagão. Há muitas pessoas dormindo nos corredores, algumas ficam perambulando à noite, por isso deve-se ficar atento aos pertences”.
Ricardo completa: “O nome ‘Trem da Morte’ não foi nem um pouco justificado, mas também não é o ‘Trem da Alegria’. Ele é meio decadente, feio e sujo, mas como escreve Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena".
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