GUERRAS CIVÍS MATAM MAIS QUE AS GRANDES GUERRAS Talvez influenciados pelas informações da mídia mundial, sempre concentrada nos grandes conflitos da humanidade, somos supreendidos quando tomamos conhecimento, que não são as guerras entre as grandes nações as mais letais, e sim as guerras civis, estas destroem maior número de populações em vários países. Só no século 20, elas foram responsáveis por 134 milhões de mortes, o dobro do provocado por todas as guerras entre Países. Para citarmos o exemplo mais importante, a 2a. Guerra Mundial (que durou cerca de 6 anos), provocou quase um 1/3 dessas mortes, ou seja, apoximadamente 50 milhões de pessoas!
Quais são os fatores que podem levar um país a enfrentar um conflito dessa espécie? Uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP) conclui que questões relacionadas ao meio rural, como crescimento populacional, instabilidade política e concentração de terra e produtividade, podem ser determinantes para deflagrar uma guerra civil. Na literatura sobre guerras civis, consta que esse tipo de conflito ocorre geralmente em países pobres, que exportam cerca de 1/3 de seus recursos naturais e cuja independência é recente. Segundo dados do Banco Mundial, aproximadamente 20% da população da África Subsaariana vivia em conflitos civis durante a década de 1990. “O cenário desses combates muitas vezes se concentra na região rural, e os atores dessas revoltas são, em geral, camponeses”, explica o cientista político Artur Zimerman, que desenvolveu a pesquisa no Departamento de Ciência Política da USP em seu doutorado, realizado também na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, onde ficou um ano. Para avaliar os fatores que levam esses indivíduos a se voltar contra grandes proprietários ou o Estado, o pesquisador criou um índice para o risco de ocorrência de guerra civil, empregando uma metodologia quantitativa raramente usada por acadêmicos de ciências humanas no Brasil. Para desenvolver esse índice, Zimerman levou em conta o crescimento demográfico, a produtividade e a concentração de propriedades rurais em países majoritariamente agrários. “A cada novo sem-terra e pequeno proprietário que surge, a probabilidade de conflito aumenta 1,52 vezes e cada novo camponês que nasce aumenta essa chance em 1,5 vezes”. Segundo o cientista político, o aumento da produtividade rural pode ser decisivo para reduzir o risco de eclosão de uma guerra civil: a cada cultivo adicional (de produto agrícola igual ou diferente) por hectare, o risco de guerra cai 60%. Com relação à concentração de terra, ele lamenta a impossibilidade de se determinar um índice confiável. “Os dados não são fiéis à realidade. Muitas vezes, o dono da terra coloca a propriedade no nome de terceiros, ou simplesmente não a declara, esta é uma pratica comum aqui no Brasil.” A instabilidade política também é um fator fundamental para a ocorrência de guerra civil, na análise do pesquisador.
Fonte: "Ciência Hoje" (Ilustração: Tela de Thomas Benton, Titulo: "July Hay" - 1943)