Antes mesmo de ficar toda pronta, a nova calçada da avenida Paulista, uma das mais movimentadas de São Paulo e do Brasil, já está lotada de chicletes e bitucas de cigarro. Jogar lixo nas ruas pode parecer um gesto banal, mas gera problemas nada desprezíveis. Numa pesquisa feita só entre os moradores de São Paulo, 76% admitem que já jogaram lixo no chão. Ironicamente, 44% acham a cidade “muito suja”. Para metada dos entrevistados, chicletes e papéis de bala são os campeões da imundície.
Além de deixar a paisagem feia, a sujeira jogada nas ruas obriga a Prefeitura a manter funcionários trabalhando apenas para limpar as ruas. Os 55 mil metros de calçadas da Paulista são varridos oito vezes por dia e elas nunca estão limpas.
O hábito de emporcalhar ruas – também é comum entr motoristas lque lançam lixo pelas janelas dos carros – é uma questão de cidadania. Falta respeito a um espaço que é de todos, mas que muitos acham que é de ninguém. A socióloga Denise Almeida, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, diz que essa noção de público e privado, no Brasil, é bastante distorcida. "Aqui, ainda vale a lógica do 'jeitinho': todo mundo quer se dar bem e tem dificuldade de pensar e agir para o bem do grupo. Isso é resultado de uma nação que historicamente tem baixa auto-estima. É aquela história: se nada funciona e ninguém faz nada, por que eu vou fazer?" Segundo ela, essa lógica, que tem, aos poucos, deixado de ser regra, tem a ver com impunidade e corrupção. E ainda há a questão ambiental. Cálculo da Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) demonstra que 35% da poluição acumulada no fétido trecho paulistano do rio Tietê não vem do esgoto, mas do lixo jogado nas vias públicas. Se a população não reavaliar hábitos, em 2015 esse lixo vai representar 65% da sujeira despejada no rio.
Um chiclete, depois de lançado ao chão, passa anos ajudando a entupir bueiros, o que agrava os problemas com enchentes, por exemplo. A goma demora cinco anos para desaparecer da natureza. Não é por acaso que, em Cingapura (Ásia), é proibido vender chicletes desde 1992. Quem for pego comercializando o produto por lá paga multa de US$ 5,5 mil (R$ 8,8 mil) ou passa um ano preso. No Brasil, pelo menos dois municípios – Vitória (ES) e Americana (SP) – adotaram multas de R$ 100 para quem joga lixo na rua.
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