Comentário de Pedro Cardoso da Costa –
Bacharel em direito - Interlagos/SP
Sabe com quem está falando?...
Para quem
não acreditava em Deus em razão da abstração, agora não pode duvidar mais: a
justiça brasileira acaba de atestar que Deus existe, e que Ele é de carne e
osso. A história já é de conhecimento
público ao ter vindo à tona recentemente. O magistrado João Carlos de Souza Correa, em 2011, foi parado numa
blitz de trânsito no Rio de Janeiro, por dirigir sem carteira de habilitação um
carro sem placa de identificação. Até a
parada do carro se tratava apenas de uma pessoa, durante a abordagem começou a
discussão e a transformação, já que o “abordado” disse seu cargo: era juiz de
direito. Por supor que a apresentação fosse um recado na base do “sabe com quem está
falando”, a agente rebateu que ele seria juiz, não Deus. Com mais um pouco de
boa vontade dos julgados, essa fala poderia ser interpretada dentro daquela
máxima dos meios jurídicos de que todo juiz pensa que é “deus” e os
desembargadores têm certeza.
A
situação de quem trabalha em fiscalização no Brasil é complicada por conta
dessa cultura tupiniquim de dar tratamento privilegiado a alguns. São vários e tradicionais os
exemplos de condutas semelhantes de deuses menores. Outros deuses de Brasília sapecaram um índio vivo.
Outros mataram um calouro afogado na Universidade de São Paulo, assim os deuses
vão impondo seu poder, ceifando vidas dos pobres diabos normais. Além desses,
talvez por negligência ou só por acaso, mas com certeza com o auxílio da
soberba da fama, os ex-jogadores Edmundo e Guilherme, os cantores Alexandre
Pires, Renner e tantos outros destruíram vidas e famílias. Estão por aí livres,
leves e soltos, prontos para atacar a qualquer momento que sintam necessidade
de firmarem seus poderes. Nesse ponto a
nossa democracia não tem avançado. Agora, essa agente passa a ser a vítima da
vez desse comportamento social arcaico de priorizar cargo, fama ou riqueza em
detrimento de quem age com correção e dignidade. Ainda que as palavras da agente
tivesse parecido ironia, ninguém pode avançar a ponto de afirmar e puni-la por
isso, já que não constam informações jornalísticas sobre alguma testemunha
confirmando a tal ironia. Além disso, notícias dão conta de episódios similares
praticados pelo juiz. Há relatos de uma confusão com um casal de turistas em
Búzios por terem reclamado do barulho de uma festa realizada pelo magistrado.
Um policial de trânsito teria sofrido ameaças, um funcionário de uma
concessionária de energia também...Não surpreende que os colegas do juiz punam
a agente por ter realizado um trabalho correto e não ter se impressionado com a
patente de juiz. Causa estranheza não haver notícia sobre alguma medida tomada
pela Corregedoria de Justiça do Rio de Janeiro para averiguar os vários
episódios envolvendo o magistrado que, com certeza, não é Deus para a
população, porém para a justiça do Rio de Janeiro é brasileiro nato, e carioca
da gema.