Por que ainda não vencemos a guerra ao terror?
O
significado semântico da palavra Al Qaeda é "a base”. Base para a
multiplicação da doutrina do radicalismo islâmico, base para o
surgimento de diferentes grupos como o ISIS - Estado Islâmico no Iraque e
na Síria (Imagem da Internet).
Quando o ex-presidente, George W. Bush, cunhou a famosa frase de que
após os atentados do 11 de setembro que “o mundo havia mudado”, não deve ter imaginado que mesmo exterminando o presidente do Iraque Saddam Hussein e a caça a infrutífera ao seu aliado de Osama Bin Laden que a partir de toda aquela ação, buscava apoio no discurso para legitimar a implementação da nova
doutrina que viria logo a seguir, da guerra ao terror e dos ataques
preventivos, que atendia também, a outros interesses estratégico dos
EUA.
Os atentados, planejados e coordenados por Osama Bin Laden,
acarretaram em coligações, apoio do Conselho de Segurança das Nações
Unidas, a invasão do Iraque, e a intensificação de operações militares e
de inteligência contra os talibãs, no Paquistão e Afeganistão, ações
que perduraram por uma década com alguns resquícios na atualidade. Pela avaliação da conjuntura, Bush estava
parcialmente correto. E as agências de inteligência
norte americanas, confiantes em seu grande poder
militar e capacidade, tenham acreditado que poderiam
esmagar os radicais com sua avançada tecnologia, reduzindo suas
ações ou até mesmo exterminando-as.
Com a morte de Osama Bin Laden, em 2011, seu sucessor, Barack
Obama, afirmou no mesmo tom que “agora, o mundo está mais seguro”,
classificando o episódio como a maior vitória militar dos EUA na guerra
ao terror. Ambos estavam equivocados. A cabeça de Osama bin Laden como um troféu só foi alcançada pelas mãos de Barack Obama, mas nunca as suas ideias
Hoje, podemos contestar os argumentos de ambos, com uma ressalva: Bush estava em parte correto: Realmente, o mundo mudou
para os EUA, mas mudaria também para o terrorismo de natureza
extremista islâmico, de uma forma pragmática.
O cenário que vemos no Iraque, Afeganistão e Síria, são uma
demonstração clara desta mudança. Os grupos, ao contrario das
estimativas mais otimistas, se multiplicaram em diversas regiões do
Oriente Médio, sul da África e Ásia e, adquiriram maior experiência em
ações de guerrilha e contra insurgência, aplicando em seus inimigos, as
mesmas técnicas e métodos utilizados em uma década, pelos militares da
coalizão. E aqueles, que se imaginava desativados, se reagruparam e
voltaram a praticar atentados com maior violência, armas modernas e
novas técnicas de produzir terror, sem nenhuma piedade ou clemência.
Atingem crianças, idosos, antigos amigos e vizinhos, da mesma forma.
Pode-se afirmar então, que estes combatentes não são os mesmos que as
tropas de coalizão combateram. Tornaram-se especializados por seus
próprios algozes. Neste sentido, a mudança pode ter sido mais vantajosa
para os insurgentes do que, propriamente para os EUA, que após a
retirada das tropas do Iraque e Afeganistão, novos atores retomaram
antigas práticas com maior intensidade. E com estes argumentos,
derrubaram também a famosa frase de Barack Obama, sobre “um mundo mais
seguro”.
A pergunta que naturalmente vem a tona após esta curta reflexão é
quem venceu afinal, este conflito. Na atualidade,
nenhuma das partes. Os EUA conseguiram apenas reduzir a ação dos grupos
radicais enquanto permaneciam nestes países, o que parece óbvio. Mas se
formos ampliar o sentido da pergunta e a estendermos sobre a Al Qaeda e
seu líder máximo, Osama Bin Laden, a resposta é bem diferente. Estes
sim, mostram-se os grandes vencedores da guerra contra o terrorismo.
A confirmação desta afirmativa está na própria compreensão do
significado semântico da palavra “Al Qaeda - a base”. Base para a
multiplicação da doutrina do radicalismo islâmico, base para o
surgimento de diferentes grupos como o ISIS (Estado Islâmico no Iraque e
na Síria). Devido à várias traduções também aparece
como ISIL ou EIIL – Exército Islâmico do Iraque e do Levante), o Boko
Haram na Nigéria, o Al-Shabaad na Somália, dentre outros, todos
inspirados nela, base para a continuidade da Jihad em busca de um estado
islâmico e base para neutralizar a influência ocidental em sua
tentativa de levar a democracia a estes países.
E nesta perspectiva, os EUA falharam na guerra contra o terror
deixando um rastro de destruição e mortes e uma condição muito mais
degradante do que encontraram nestes países. E a atual postura de
auxílio em armas, técnicos e conselheiros serve para enfatizar esta
percepção e aumentar o ceticismo em relação a sua real capacidade de
promover a democracia e a paz no mundo islâmico. A consequência imediata
é o crescente aumento do sentimento antiamericano e novas fontes de
recrutamento e financiamento.
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