AR-DIÁRIO - "Medo de Cobra?""

PENSE BEM ANTES DE IR A ILHA DE GUAM
Introduzido por acidente, réptil destruiu a biodiversidade da ilha, devorando pássaros, lagartos e morcegos

Integrante do exército dos EUA segura uma cobra-arbórea-marrom, na ilha de Guam, localizada no oceano Pacífico

Na hora do almoço na base militar de Andersen, que ocupa quase um terço dessa ilha tropical de Guam, no noroeste do Pacífico. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos retomaram dos japoneses esse território que lhes pertencia desde o final do século 19. Uma vez terminada a refeição, os empregados chamorros, cujos ancestrais de origem asiática foram os primeiros a povoar essa ilha, voltam ao trabalho.

O trabalho consiste em rechear centenas de ratos brancos congelados, empacotados em um canto da mesa, com comprimidos de paracetamol. Esse inusitado procedimento permite combater um animal que invadiu a ilha em poucas décadas, a cobra-arbórea-marrom (Boiga irregularis), um constritor cujo veneno não apresenta perigo para um adulto saudável, mas cujo apetite se revela fatal para a biodiversidade de Guam, por não possuir predador.

Introduzida por acidente, provavelmente em um cargueiro proveniente das ilhas Salomão ou da Papua-Nova-Guiné por volta do final dos anos 1940, essa serpente de escamas marrons e ventre amarelado que pode chegar a dois metros de comprimento já aniquilou dez das 13 espécies endêmicas de pássaros, três espécies endêmicas de lagartos e vários tipos de morcegos.

Nos bosques de Guam, reina o silêncio. Ali praticamente não há mais nenhum pássaro, uma vez que o réptil, que vive nas árvores, há muito tempo já devorou todos os ovos que os pais, sem nenhuma experiência com esse predador, deixaram ao seu alcance, dentro dos ninhos. A Boiga irregularis em seguida atacou os lagartos e os pequenos roedores, uma mudança de dieta alimentar que não afetou sua saúde: agora há 2 milhões delas, no mínimo, para 175 mil humanos em um território com 48 quilômetros de extensão e 14 quilômetros de largura.