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quarta-feira, setembro 27, 2006

O pagador de promessas

No Cruzeiro Europa Copa-66, foi marcante a presença do ex-galã dos velhos filmes da Atlântida, Anselmo Duarte, hoje vitorioso cineasta, diretor e roteirista de "O Pagador de Promessas" o único filme brasileiro, até hoje a ganhar o cobiçado troféu do cinema mundial a "Palma de Ouro", no "Festival do Cinema Internacional de Cannes", em 1962. Numa noite em plena navegação, eu tive a honra de apresentà-lo para nos contar tudo sobre o filme. Com sua verve e habitual simplicidade, contou tudo sobre o filme, inclusive assuntos de bastidores:
Sínopse: Zé do Burro (Leonardo Villar) conduzindo a cruz neste "take" do filme e sua mulher (Glória Menezes) vivem numa pequena propriedade em Salvador. Um dia, o burro de estimação do Zé, é atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de Candonblé, onde faz uma promessa a Santa Barbara para salvar o animal. Com o restabelecimento do bicho, Zé põe-se a cumprir a promessa e doa metade de seu sítio, para depois começar uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a via crucis de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com o cafetão bonitão (Geraldo del Rey) e ao encontrar a resistência ferrenha do padre Olavo (Dionisio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão de Zé haver feito sua promessa em um terreiro de macumba.

De tudo que ele contou só não consigo esquecer esta história:

“A QUE HORAS O SENHOR QUER A NUVEM?”

Num determinado dia da filmagem, que foi rodado nas escadarias de acesso à Igreja do Passo,
(na região do Pelourinho) na cidade de Salvador, contrariando o que determinava o roteiro, faltava uma nuvem sobre a igreja para dar um toque especial. O céu estava todo azul, mas a falta de uma nuvem (que para o leigo, seria apenas um simples detalhe) para Anselmo, sem uma nuvem, não havia como gravar mais um “set” do filme. Após longa espera, Anselmo informou a equipe que a filmagem estava suspensa até a tarde do dia seguinte, isto é, se aparecesse uma nuvem. Nesse momento, o misticismo baiano entrou para resolver. Entre os curiosos, havia um rapaz, que se aproximou de Anselmo e como se não quisesse nada, foi dando o recado:“Olha, seu Anselmo, eu não sei se o senhor bota fé, mas temos aqui em Salvador uma mãe-de-santo que pode resolver esse problema”. E Anselmo ansioso para gravar mais esse trecho do filme, não se fez de rogado. Para a surpresa do rapaz, foi arrastando-o pelo braço para que ele o levasse até a presença dessa senhora. Minutos depois, estavam diante dela. E Anselmo já entrou disparando: “Minha senhora, a filmagem do ´Pagador´ está suspensa porque falta uma nuvem em cima da igreja do Passo!” E a mãe-de-santo, resoluta, foi lhe perguntando: “Que dia e hora o senhor precisa dessa nuvem?” “Amanhã, as duas da tarde”, respondeu Anselmo. Nesse momento, o público começou a rir, menos Anselmo, que se manteve impassível, e com a maior cara-de-pau, concluiu: “È, e as duas em ponto a nuvem chegou, e a filmagem continuou!!!”

Um comentário:

  1. a cada dia fico mais apaixonada por suas materias.....
    Beijo

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