Nas décadas de 60 e 70, nos fins de tarde de uma São Paulo já cosmopolita, mas ainda amável, poucos foram os paulistanos que não fizeram da Biblioteca Mário de Andrade, o seu “point” preferido. Alguns, como referência para encontros, e outros para devorar seus acervos repletos de raras obras literárias ou para contemplar suas centenárias e valiosas gravuras.
Há pouco vindo dos EUA, onde doei alguns dos meus livros, ouvi ao lado do meu filho Roberto Júnior, de David Gardner, um dos responsáveis pela “Biblioteca Central de Dallas”-Texas, esta expressão: “De cada cem pessoas que pensam em escrever um livro, apenas uma escreve”. Pois um dos motivos pelos quais eu criei coragem para escrever “Arquivos de um repórter”, foi o fascínio pela Mário de Andrade, e o desejo de um dia saber que meu modesto livro, poderia estar abrigado nem que fosse na sua mais modesta prateleira. E ele está! Hoje, um livro está na tradicional Mário de Andrade e o outro na unidade circulante, também na Rua da Consolação, incluídos nos seus catálogos.
Quando está comemorando 80 anos, a Biblioteca mais importante do país ganha de presente uma ampla reforma. E é neste momento especial, que parte do seu do seu setor de obras raras, de valores inestimáveis é roubado. Obras como o livro de orações do ano de 1501 impresso em pergaminho, 58 gravuras de Rugendas (1802-1858), 42 de Debret (1768-1848), 12 de Steinmann (1800-1844) e três de Burmeister. O fato é muito grave por várias circunstâncias. Não há sinais de arrombamento nas suas instalações, o que sugere um roubo planejado de dentro para fora.
Pobre Brasil, um país cujo povo precisa de cultura como ar pra respirar, e que têm pessoas que se infiltram nesses ambientes não para aprender, mas para ensinar como usar esses acervos como moeda de troca. Ao mesmo tempo em que a Mário de Andrade é roubada, o Ministério Público já fez blitze no Museu da Imagem e do Som (MIS) e no Museu da Casa Brasileira (MCB) e recolhe 40 caixas de documentos. O MP investiga supostas irregularidades administrativas e desvios de recursos do Estado nas instituições.
Este é o Brasil onde a corrupção não está só em Brasília, mas em cada uma de suas esquinas.
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